Mogli: conheça a trágica história real que inspirou os filmes

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A famosa história de Mogli, o Menino Lobo vem sendo contada desde o final do século XIX para dezenas de gerações e meio que se transformou em um símbolo de harmonia entre seres humanos e animais. No entanto, a história eternizada em filmes da Disney não revela a dor e a tragédia vividas pelo menino-lobo real, chamado Dina Sanichar.

Sanchar nunca foi amigo do urso Balu ou de Baguera, a pantera. Na verdade, foi encontrado em 1867, aparentemente com seis anos de idade, por caçadores do distrito de Bulandshahr, na Índia, cercado por uma alcateia de lobos em uma caverna. Preocupados com a segurança do garotinho, os homens o chamaram e tentaram tirá-lo do covil, mas perceberam que ele não entendia o que diziam e andava de quatro, como um animal.

Aterrorizados com a visão da criança andando junto com as feras, e sem poder atirar para não atingir o menino, os caçadores atearam fogo no lugar, obrigando todos os ocupantes a sair. Assim que o fizeram, eles mataram os lobos um a um e levaram o humano com eles. Ali começava a verdadeira história do Mogli de carne e osso, bem mais triste do que a do Livro da Selva.

Como o Mogli da vida real voltou à civilização?

Presumindo que os pais do menino teriam sido devorados pelos lobos, os caçadores o levaram para o orfanato de uma missão religiosa em Sikandra, na cidade indiana de Agra. Lá, o garoto foi batizado como Sanichar, palavra que significa “sábado” na língua urdu, pois foi nesse dia que ele chegou na instituição.

Analisado pelo padre Erhardt, que dirigia o orfanato, Dina Sanichar foi avaliado com um QI muito baixo. Para o missionário, embora o menino fosse “sem dúvida um pagal [palavra em hindi que significa imbecil ou idiota], ainda mostra sinais de razão e, às vezes, verdadeira astúcia”. Sem sensibilidade para compreender o background da criança, tentaram forçá-la a falar, mas Sanichar jamais conseguiu fazer isso, ou ler e escrever.

Repetindo o comportamento social da sua família adotiva, ele se comunicava apenas fazendo barulhos de animais. O ex-menino-lobo até conseguiu aprender a andar sobre duas pernas, mas arrancava suas roupas e preferia ficar nu. Além disso, custou a se adaptar a comer refeições cozidas e manteve por muito tempo o hábito de afiar seus dentes nos ossos.

O encontro de um amigo e um único (mau) hábito humano

O desenvolvimento de Dina Sanichar no orfanato foi caótico. Mesmo após dez anos de convivência com seres humanos, ele continuava muito ansioso e sobressaltado, como um verdadeiro animal arisco. A estranheza se estendeu também a algumas características físicas, como a estatura de apenas um metro e meio, dentes grandes e testa baixa. Sequestrado de sua família de criação, ele provavelmente se sentia como um alienígena perdido.

Mas, no orfanato, morava um outro “ET”, mais uma criança selvagem igualmente criada por animais. Por ter a mesma origem e as mesmas dificuldades de adaptação, os dois garotos estabeleceram entre si um vínculo de amizade. O padre Erhardt até se surpreendeu quando “o mais velho foi o primeiro a ensinar ao mais novo como beber em um copo”.

Mesmo com pequenos progressos, Sanichar jamais conseguiu reconectar o seu cérebro e o seu desenvolvimento motor com os padrões dos humanos que o rodeavam. Dessa forma, prosseguiu por toda a sua vida a repetir a maioria dos comportamentos aprendidos com sua família canina. O único hábito humano que ele aprendeu e integrou normalmente à sua vida foi fumar.

Muitas crianças selvagens na Índia ou apenas histórias?

Segundo relatos da época, o orfanato passou a acolher diversas crianças-lobo ao longo dos anos, a ponto de essas ocorrências não surpreenderem a mais ninguém na Índia. Como os missionários começaram a se “especializar” nesse tipo de atendimento, muita gente passou a questionar se essas pessoas eram mesmo “selvagens” ou apenas diferentes por terem algum tipo de deficiência física ou intelectual.  

Seja como for, ainda que não tenha sido criado por lobos como Mogli, Dina Sanichar traz uma história fascinante, que tem tudo para ser eternizada por poetas e romancistas, como o personagem de Rudyard Kipling em O Livro da Selva. Na vida real, como na ficção, o que nos encanta é a ideia de um ser humano ser criado em um ambiente totalmente diverso do nosso.

Dina faleceu de tuberculose em 1895. Ele tinha apenas 29 anos e jamais se acostumou ao que chamamos de civilização.

Fonte: techmundo

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