Afinal, Coringa 2 é realmente um musical? Entenda com a música é usada no filme de Joaquin Phoenix e Lady Gaga

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Hollywood vive um momento peculiar com a forma como divulga suas produções. Com milhões de dólares investidos em produções de médio e grande porte, a indústria cinematográfica tem carecido de mais coragem, digamos. Isso vai de trailers que entregam todas as piadas, plots e elementos de um longa-metragem no receio de não levar uma boa audiência aos cinemas ao medo de assumir questões óbvias de um projeto.

No caso de Coringa: Delírio a Dois, existe um fator que, apesar de ser parte intrínseca do título, pode supostamente dificultar o desempenho do projeto nas telonas – e essa é uma impressão dada pelo próprio diretor Todd Phillips. As expectativas são altas pelo retorno de Joaquin Phoenix e pela introdução de Lady Gaga ao universo sujo e conturbado de Gotham City – e cada detalhe e declaração equivocada pode ser uma barreira ao sucesso.

Essas expectativas também são, obviamente, comerciais. Principalmente depois do filme original não apenas conquistar 2 vitórias no Oscar, mas fazer a Warner Bros. ver grandes montantes de dinheiro – 1,074 bilhão de dólares para ser mais preciso – após ter investido “apenas” 55 milhões no filme.

Prestes a estrear nos cinemas, chegou, enfim, o momento de retomar uma discussão que acompanhou todo o processo de divulgação da narrativa. Talvez, para muitos, seja exaustivo voltar a este ponto, mas é preciso dizer se, afinal, Coringa 2 é ou não é um musical. Porém, antes, deixo uma declaração do diretor sobre o tema:

“Nunca pensamos exatamente neste termo [musical]. Gosto de dizer que é um filme no qual a música é um elemento essencial. Mas não é tão diferente do primeiro. Arthur tem a música consigo. Ele tem essa leveza”, disse ele durante a CinemaCon 2024.

Coringa 2 é realmente um musical?

Bem, a resposta mais simples e direta é sim. A história que acompanha o julgamento de Arthur Fleck (Phoenix) após os desdobramentos perturbadores do longa anterior é regada, guiada e preenchida por uma refinada musicalidade. Com os vocais poderosos de Gaga e a tentativa do astro de Her, Gladiador e Napoleão em aquecer as cordas vocais, o longa usa a musicalidade como fio condutor de toda a história.

O AdoroCinema já assistiu ao filme e pode confirmar com tranquilidade que Coringa 2 é um musical. No entanto, pode-se considerar que existem dois recursos diferentes durante a trama: o uso diegético e o uso não diegético da trilha.

Eu explico: embora seja um termo complexo, podemos resumir que a diegese é tudo o que faz parte do mundo apresentado na tela. Por exemplo: a música que os personagens ouvem na rádio, os diálogos, efeitos sonoros como a chuva, o vento e uma sirene, entre outras coisas. É tudo o que dá realidade ao filme, o que traz verdade para a trama e dá sentido às ações dos personagens.

Voltando à nova aposta da DC nas telonas, é possível ver peças bem elaboradas que referenciam grandes números musicais da Broadway. Estes momentos normalmente acontecem na mente do palhaço que dá nome ao filme. São recursos da linguagem cinematográfica para ilustrar os sentimentos do Coringa de acordo com os acontecimentos que o cercam.

Para isso, é válido trazer uma fala do crítico de cinema Richard Dyer do seu livro Stars, em que descreve exatamente este tipo de uso não diegético ou extra diegético do gênero: “O musical é uma forma de escapismo, onde os personagens podem expressar seus desejos mais profundos através da música, criando uma experiência emocional intensa para o público.”

Por outro lado, existem também diversos momentos em que a cantoria acontece dentro da “história real”, ou seja, não fazem parte de uma entrada lúdica, mas integram a cena com todos à volta. Um exemplo são as sequências na prisão, em que todos os detidos embarcam no canto – e essas passagens estão, sim, no mundo diegético do longa.

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